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Foto do escritorMarco de Sá

O espelho de Narciso

Entenda a nossa escolha com Black Mirror como tema central a guiar as discussões do blog, com apoio de Flusser e outros teóricos.


Foto: Nicholas Tessier (Unsplash)


Segundo Flusser (2007), a comunicação humana representa um processo artificial. Nós humanos, enquanto seres naturais, orgânicos, viemos de uma evolução milenar que teve início nas primeiras bactérias do mundo até a formação dos mamíferos, categoria animal em que os humanos estão inseridos. Desta forma, há processos que Flusser aponta como naturais, a exemplo do canto dos pássaros ou a dança das abelhas. No caso dos humanos, a relação sexual ou o ato de uma mãe amamentar seu filho podem ser lidos enquanto processos de comunicação mais orgânicos.


Entretanto, a fala e a escrita não se enquadram nessa classificação. Isso acontece porque tanto na fala, quanto na escrita, são utilizados códigos criados conscientemente que permitem o armazenamento e transmissão de informações. Para Flusser, ao fugir de uma ordem comum, o homem encontra na comunicação uma tentativa de negar a natureza. Através do diálogo, o homem produz informações e através do discurso, as reproduz. Ambos processos envolvem a troca e o compartilhamento de informações.


Ao longo dos anos, o homem encontrou formas de se comunicar para além da fala. Antes da língua existir, se utilizava a linguagem corporal ou pinturas rupestres enquanto comunicação. Para Lemos (2002), o fenômeno técnico aparece como uma “relação artificializada (mediada por artefatos) entre matéria viva ou orgânica e a matéria inanimada”. E esse fenômeno está atrelado à evolução humana na medida em que o processo evolutivo caminha juntamente com o surgimento das técnicas.


Atualmente, chegamos em um momento temporal em que não conseguimos distinguir uma fronteira entre técnica e ciência, resultando na tecnologia moderna. A série Black Mirror se encontra no cerne dessa questão, sendo o nosso espelho de Narciso. Com sua estréia em 2011, Black Mirror é uma série antológica que, através de diferentes histórias em cada episódio, possui um fio condutor para suas narrativas: a tecnologia. O pensamento de Heidegger trazido por Lemos em “Cibercultura: Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea” pode exemplificar bem essa relação que o tom da série assume com os conceitos de comunicação e tecnologia:

Série: Black Mirror (Netflix)

“Com a tecnologia moderna, afirma Heidegger, é o próprio destino do homem no mundo que está em jogo, transformando seu modo de existência num desvelamento enquanto provocação científica da natureza para uso meramente instrumental”


Diferentemente de ficções como Jogos Vorazes ou Maze Runner, que tratam de sociedades distópicas que parecem distantes, em Black Mirror, a distopia é tratada de maneira próxima. É como um futuro possível, que se aproxima cada vez mais na medida em que a sociedade avança no desenvolvimento tecnológico. Isso se dá por conta das temáticas abordadas na série serem bastante atuais como relacionamentos virtuais, segurança de dados, vigilância e inteligência artificial.


A tecnologia presente nas diversas narrativas diferentes nos permite explorar um universo de possibilidades futuras (a maioria delas com consequências negativas), onde a comunicação desempenha um papel primordial. Em um dos episódios, por exemplo, pessoas são avaliadas constantemente por suas ações em uma plataforma online. Essa avaliação dita o quão aceita ou não a pessoa será na sociedade, podendo mudar da noite para o dia. Esse cenário extremo se apresenta como possibilidade de um presente em curso: já temos aplicativos em que avaliamos e somos avaliados a todo tempo por determinada ação.


É a prova que a comunicação em Black Mirror não acontece de forma unilateral. É interessante observar como a ideia de armazenamento e compartilhamento de informações se aplica nesse contexto. A série toma como base discussões atuais do mundo real no âmbito da tecnologia e nos devolve desdobramentos dessas discussões. E é a partir desses desdobramentos que A Selfie de Narciso irá fomentar novos debates com os próximos posts.


Tudo pronto pra essa viagem?



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